Mudanças no Qualis: O que ninguém te contou

Autoria: Yasmin Saba de Almeida

Coloboração: Prof.ª Dr.ª Elaine Antunes Cortez – Universidade Federal Fluminense

“Eu ouvi que o Qualis vai acabar… é verdade?”

Essa é provavelmente a pergunta que mais circula nos corredores da pós-graduação. A resposta é: não, o Qualis não vai acabar, mas ele vai passar por mudanças profundas.

A partir do ciclo avaliativo 2025-2028, a CAPES implementará um novo modelo de avaliação da produção científica dos programas de pós-graduação (PPGs), no qual o foco deixará de ser exclusivamente a revista e passará a ser o artigo individual.

O Fim do Qualis Periódicos Tradicional

O que é o Qualis, afinal?

O Qualis é um sistema de classificação de periódicos científicos utilizado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) para avaliar a qualidade da produção científica dos PPGs brasileiros. Diferente do que muitos pensam, ele não é uma certificação da revista, e muito menos um “selo de qualidade” permanente do periódico.

O Qualis classifica as revistas nas quais os docentes e discentes dos PPGs publicaram durante um ciclo avaliativo e, posteriormente, utiliza essa classificação como parte da análise do desempenho do programa. Isso significa que a nota atribuída vale apenas para aquele período específico. Portanto, ao olharmos para a avaliação de 2017-2020, o estrato corresponde exclusivamente àquele intervalo de tempo, e a revista pode tanto melhorar quanto piorar com o passar dos anos.

Nem toda revista possui Qualis, visto que o sistema não avalia “todas as revistas”, mas sim a produção dos PPGs a partir dos periódicos onde seus docentes e discentes publicaram. Uma revista só aparece no Qualis porque algum programa publicou nela; se nenhum PPG tiver artigos ali durante o quadriênio, ela simplesmente não é classificada. Isso significa que o Qualis reflete o que foi efetivamente produzido no período, e não um catálogo geral de revistas existentes.

Por exemplo, imagine uma excelente revista internacional de cardiologia, mas nenhum pesquisador brasileiro vinculado a um PPG publicou nela nos últimos quatro anos. Essa revista simplesmente não aparecerá na lista do Qualis naquele quadriênio, independentemente de sua qualidade ou impacto.

Como funcionava até agora?

Atualmente, o Qualis organiza os periódicos em nove estratos, que vão de A1 (o mais alto) até C (sem pontuação). A lógica é simples: quanto mais alto o estrato, maior o impacto e a visibilidade científica do periódico no quadriênio avaliado.

A1 → A2 → A3 → A4 → B1 → B2 → B3 → B4 → C

Os estratos A (A1, A2, A3, A4) representam a “elite” dos periódicos. O A1 reúne revistas de maior impacto mundial, com presença consolidada em bases como Scopus e Web of Science. Conforme avançamos para A2, A3 e A4, o impacto diminui um pouco, mas ainda estamos falando, em teoria, de periódicos com boa visibilidade internacional, revisão editorial rigorosa e padrões editoriais sólidos.

Nos estratos B (B1, B2, B3 e B4) ficam as revistas com impacto mais moderado, mas que ainda desempenham um papel importante, especialmente para a ciência brasileira. É comum encontrar aqui muitos periódicos nacionais bem estabelecidos, inclusive revistas indexadas em SciELO ou DOAJ, que têm relevância forte dentro de suas áreas. B1 e B2 costumam representar revistas de excelência nacional, enquanto B3 e B4 incluem periódicos sérios, porém com alcance mais restrito ou métricas mais baixas.

O estrato C é o nível que exige maior atenção. Ele atribui peso zero à revista na avaliação. Um periódico pode ser classificado como C por vários motivos: impacto muito baixo, ausência de indexadores relevantes, fragilidades editoriais ou mesmo problemas consistentes de qualidade. É aqui que podem aparecer revistas predatórias, mas também revistas novas, em desenvolvimento, ou que ainda não alcançaram critérios mínimos para serem classificadas em estratos superiores.

Cabe ainda destacar que os ciclos 2017–2020 e 2021–2024 passaram a adotar o chamado Qualis Referência para a definição dos estratos. Nesse modelo, a área-mãe torna-se responsável por atribuir o estrato geral da revista. Em termos práticos, cada periódico passa a ter uma única classificação oficial, definida pela área que ela mais publica. Então, não existem mais classificações Qualis diferentes para uma mesma revista; se ela é B1 na área-mãe, ela será B1 em todas as áreas.

Por que o Qualis está mudando?

O modelo tradicional do Qualis, apesar de ter sido útil por anos, apresentava limitações importantes. A principal crítica era que ele avaliava apenas o prestígio da revista, sem considerar a qualidade individual de cada artigo, de forma que um artigo “fraco” publicado em revista A1 valia mais que um artigo excelente publicado em uma revista B3.

O sistema desvalorizava indiretamente a aderência temática da pesquisa ao escopo da revista, ao incentivar uma “corrida por estratos”. Além disso, acabava penalizando periódicos nacionais que ainda não haviam alcançado indexação internacional, mesmo quando publicavam pesquisas fundamentais para o contexto brasileiro.

Você sabia que não é mais a revista que será classificada, mas sim o artigo individualmente?

Segundo o Relatório do Grupo de Trabalho criado pela CAPES (2024b), as áreas de avaliação poderão escolher entre três procedimentos distintos para classificar a produção bibliográfica no ciclo 2025-2028.

A área de Enfermagem adotará os Procedimentos 2 e 3, priorizando o impacto do artigo em relação ao prestígio do periódico.

Procedimento 1 – Foco no PERIÓDICO

O Procedimento 1 mantém a lógica da classificação baseada no prestígio do periódico, utilizando indicadores bibliométricos consolidados internacionalmente: CiteScore (Scopus), Journal Impact Factor/JIF (Web of Science) e Índice h (OpenAlex/Google Scholar). A principal mudança é que os antigos estratos B1-B4 passam a corresponder aos novos A5-A8. O estrato C permanece com peso zero na avaliação.

A1 → A2 → A3 → A4 → A5 → A6 → A7 → A8 → C

O CiteScore, fornecido pela base Scopus (Elsevier), calcula a média de citações recebidas pelos artigos de um periódico ao longo dos últimos quatro anos. Ele soma todas as citações recebidas nesse período e divide pelo total de documentos publicados. Quanto maior essa média, maior tende a ser a influência do periódico.

O Journal Impact Factor (JIF), calculado pela Web of Science (Clarivate Analytics), mede o número médio de citações que os artigos de um periódico receberam nos dois anos anteriores. Por exemplo, se uma revista publicou 100 artigos em 2022 e 2023, e esses artigos receberam 400 citações em 2024, o JIF será: 400 ÷ 100 = 4. É fundamental destacar que apenas o JIF oficial da Clarivate é considerado válido na avaliação Qualis. Revistas que afirmam ter “fator de impacto” mas não constam na base Web of Science devem ser vistas com cautela, pois podem estar utilizando métricas não reconhecidas pela comunidade científica.

O Índice h, estimado pelo Google Scholar Metrics e pelo OpenAlex, mede quantos artigos de uma revista receberam, pelo menos, o mesmo número de citações. Por exemplo, se uma revista tem índice h = 20, isso significa que ela publicou 20 artigos que receberam, cada um, pelo menos 20 citações. Mesmo que alguns artigos tenham 100 ou 200 citações, o índice não aumenta além desse patamar, porque ele considera apenas o grupo de artigos que atinge impacto de forma consistente. Tanto o Google Scholar quanto o OpenAlex calculam esse indicador utilizando o mesmo princípio matemático, mas diferem na base de dados utilizada e na janela temporal considerada. Cada plataforma acessa fontes distintas e possui critérios próprios para contabilizar publicações e citações, o que pode resultar em valores diferentes do índice h para uma mesma revista. O Google Scholar fornece o h5 (últimos 5 anos) e o h10 (últimos 10 anos), enquanto o OpenAlex calcula o índice h geral, considerando todo o histórico de publicações da revista desde sua criação.

Importante destacar que o procedimento de conversão desses indicadores em percentis depende do tipo de métrica utilizada. Quando a área adota CiteScore e JIF como principais, são utilizados os percentis já fornecidos pelas próprias bases Scopus e Web of Science. Por outro lado, quando a área opta exclusivamente pelo uso do índice h, a CAPES calcula o percentil diretamente, com base na distribuição desse indicador entre os periódicos da área.

Ex.: Considere que a “Revista Enfermagem do Futuro” esteja indexada apenas no Google Scholar Metrics, com h5 = 28. Como não existe percentil pronto para o índice h, a CAPES compara esse valor com o índice h de todas as revistas da área. Se esse desempenho colocar a revista acima de 70% dos periódicos avaliados, ela será enquadrada no percentil 70, classificando-se como A3.

Após definido o percentil final, a CAPES organiza os periódicos em estratos de igual amplitude, distribuídos em faixas de 12,5%, da seguinte forma (Figura 1):

Figura 1. Estratificação de periódicos por percentis no novo Qualis

Fonte: Adaptado de Brasil (2025c, p. 42).

Assim, quando uma revista está no percentil de 90%, isso significa que ela apresenta desempenho superior ao de 90% dos periódicos avaliados naquela mesma categoria temática, sendo, portanto, enquadrada no estrato A1.

No caso de a revista estar indexada em mais de uma base — por exemplo, simultaneamente na Scopus e na Web of Science — a CAPES considera o maior percentil obtido, ou seja, utiliza o melhor desempenho do periódico para definir seu estrato final.

Procedimento 2 – Foco no ARTIGO individual

O Procedimento 2 toma como referência o estrato atribuído no Procedimento 1 e procede à classificação dos artigos com base nos critérios qualitativos do periódico e nos indicadores bibliométricos de citação individual. Na prática, suponha que um artigo tenha sido publicado na “Revista Enfermagem do Futuro”, classificada como A3 no Procedimento 1. Nesse caso, o artigo inicia sua avaliação no estrato A3 e poderá — ou não — subir de estrato conforme os dois critérios adicionais considerados abaixo.

A avaliação inicia-se pela análise qualitativa do PERIÓDICO em que o artigo foi publicado. Nesse momento, consideram-se os critérios de editoração e indexação, acesso aberto, valorização de periódicos nacionais, entre outros. Nesse quesito, a CAPES instituiu uma diretriz comum a todas as áreas para a melhoria do estrato dos artigos, que é a indexação do periódico na SciELO. Dessa forma, caso o periódico atenda a esses critérios, a classificação por critérios qualitativos poderá alterar a estratificação inicial (A1 a A8) recebida no Procedimento 1.

Posteriormente, cada ARTIGO é avaliado pelo seu próprio desempenho bibliométrico, considerando o índice de citação (quantas vezes o artigo foi citado por outros trabalhos), altimetria (repercussão em mídias sociais e plataformas digitais), dentre outros. A área de Enfermagem, por exemplo, estabeleceu que os artigos que estiverem entre os 5% mais citados dentro de cada periódico podem subir, no máximo, um nível em relação à classificação original. Assim, um artigo inicialmente enquadrado como A3 pode ser reclassificado como A2 caso apresente alto índice de citação.

Para a realização do Procedimento 2, a área de Enfermagem definiu indicadores específicos de classificação inicial da produção de artigos em periódicos da área, com o objetivo de valorizar características próprias do campo, sem desvalorizar a produção nacional. Esses indicadores podem ser observados na Figura 2:

Figura 2. Critérios estabelecidos pela CAPES para classificação das produções de artigos em periódicos da Área de Enfermagem

Fonte: Adaptado de Brasil (2025d, p. 28).

Isso significa que, para revistas cuja área-mãe é Enfermagem:

  • Estrato A1: Revistas indexadas na Web of Science com JIF igual ou maior que 1,8 OU revistas indexadas na Scopus com CiteScore igual ou maior que 2,9.
  • Estrato A2: Revistas indexadas na Web of Science com JIF entre 1,1 e 1,7 OU revistas indexadas na Scopus com CiteScore entre 1,8 e 2,8.
  • Estrato A3: Revistas indexadas na Web of Science com JIF entre 0,6 e 1,0 OU revistas indexadas na Scopus com CiteScore entre 0,7 e 1,7 OU revistas indexadas na MEDLINE. Ou seja, revistas indexadas na MEDLINE são automaticamente classificadas neste estrato, mesmo sem apresentar JIF ou CiteScore.
  • Estrato A4: Revistas indexadas na Web of Science com JIF entre 0,1 e 0,5 OU revistas indexadas na Scopus com CiteScore entre 0,1 e 0,6 OU revistas indexadas no SciELO OU revistas indexadas na RevEnf. Assim, revistas indexadas no SciELO ou na RevEnf entram automaticamente neste estrato, mesmo sem JIF ou CiteScore.
  • Estrato A5: Revistas indexadas na LILACS OU revistas indexadas na BDEnf.
  • Estrato A6: Revistas indexadas no RIC CUIDEn com índice igual ou maior que 1,5.
  • Estrato A7: Revistas indexadas na CINAHL OU revistas indexadas no RIC CUIDEn com índice entre 0,1 e 1,4.
  • Estrato A8: Revistas indexadas no Latindex.
  • NC (Não Classificado): Artigos publicados em periódicos não presentes em nenhuma das bases citadas anteriormente ou associados a práticas editoriais duvidosas são classificados como não classificados. Esses artigos têm peso zero na avaliação e não contribuem para o PPG.

OBS: Entre os estratos A1 e A4, quando uma revista estiver presente em mais de uma base, será adotada a classificação correspondente à maior métrica apresentada.

Procedimento 3 – Analise Qualitativa do ARTIGO

O Procedimento 3 é a etapa em que a avaliação deixa de se apoiar apenas nos indicadores quantitativos e passa a examinar, de forma mais cuidadosa, a qualidade da produção intelectual. Enquanto os Procedimentos 1 e 2 fazem uma classificação mais automatizada, aqui o objetivo é compreender a contribuição científica das melhores produções do PPG para o avanço da área de pesquisa.

Assim, cada PPG seleciona cinco produções consideradas mais relevantes e apresenta uma justificar do por que elas se destacam. A preferência é que sejam artigos, porém, até dois deles podem ser substituídos por livros, caso representem contribuições particularmente relevantes. Essa escolha permite ao programa evidenciar aquilo que considera seus melhores produtos.

Ao final do Procedimento 3, as produções recebem uma avaliação global em cinco níveis: Muito Bom, Bom, Regular, Fraco ou Insuficiente.

Nesse quesito, a área de Enfermagem pretende fazer uma avaliação multidimensional para checagem da qualidade, observando se: os trabalhos são derivados de macroprojetos, dissertações ou teses; o alinhamento temático com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ou com as prioridades de pesquisa em saúde; e o avanço conceitual ou metodológico trazido pelo estudo — seja ao inovar, aprofundar teorias ou oferecer soluções aplicáveis à enfermagem. Indicadores bibliométricos, como citações e repercussão digital, entram como complemento dessa avaliação.

Quando o programa optar por incluir livros, eles passarão por uma análise específica. Primeiro, será verificada a aderência do livro à área de Enfermagem e ao perfil do programa; obras não aderentes serão automaticamente descartadas. Os livros que seguirem na avaliação serão examinados em três dimensões: características formais (tipo de editora, idioma, existência de conselho editorial), avaliação indireta da qualidade (natureza da obra e origem) e avaliação direta (inovação, impacto, relevância e participação discente). Após essa etapa, receberão uma pontuação de zero a 100 pontos. Livros que atingirem entre 85 e 100 pontos serão classificados como L1 (livros de maior qualidade), enquanto aqueles entre 70 e 84 pontos receberão classificação L2 (livros de qualidade). Já o Livro Não Classificado (LNC) será atribuído a itens eventualmente incluídos pelos programas que não atenderem aos requisitos mínimos para serem considerados livros, como cartilhas, materiais didáticos ou outros tipos de produção.

Os Produtos Técnicos-Tecnológicos (PTTs) também podem compor o conjunto das produções destacadas, representando aplicações práticas do conhecimento gerado. A avaliação considera primeiro a aderência do produto, a participação docente e a possibilidade de auditoria; itens que não cumprirem esses critérios são excluídos. Os produtos aprovados são então avaliados em termos de aplicabilidade (abrangência, replicabilidade e tipo de impacto), inovação (grau de originalidade) e complexidade (nível de elaboração). Os PTTs que obtêm pontuação entre 8,0 e 10,0 são classificados como T1; aqueles com pontuação entre 6,5 e 8,0 são classificados como T2.

O que muda para o Pesquisador de Enfermagem?

Impacto no Pós-Graduando

A transição para um modelo centrado no artigo representa uma mudança de paradigma que pode ser, paradoxalmente, tanto libertadora quanto mais exigente para o pós-graduando. Por um lado, rompe-se com a lógica perversa de que um trabalho medíocre em revista prestigiada vale mais que uma contribuição excepcional em periódico nacional. Por outro, impõe-se ao pesquisador em formação uma responsabilidade adicional, já que não basta publicar; o trabalho precisa repercutir.

Essa mudança pode gerar ansiedade. O estudante passa a ter de pensar não apenas em concluir a pesquisa e publicá-la, mas também em divulgá-la, engajar a comunidade científica e garantir que o trabalho circule. Nesse cenário, há o risco de que estudantes com menos capital social acadêmico, menor poder aquisitivo ou pertencentes a grupos historicamente minorizados — muitas vezes sem redes consolidadas de colaboração ou orientadores bem conectados — vejam seus trabalhos subavaliados; não por falta de qualidade, mas por falta de visibilidade. Questiono-me, inclusive, se não estaremos sendo levados a nos tornar uma espécie de “influenciadores digitais” para que nossas produções sejam reconhecidas.

Ao mesmo tempo, a valorização de indexadores latino-americanos pode representar um resgate da pertinência temática dos estudos. Muitas pesquisas profundamente relevantes para a compreensão do cenário nacional enfrentavam barreiras de inserção não por falhas metodológicas, mas porque não despertavam interesse editorial nesses espaços. Nesse sentido, o novo sistema reforça que a ciência ganha densidade quando se orienta por prioridades próprias e contribui de maneira concreta para a realidade local.

Impacto no Docente

Para os docentes, o novo sistema exige uma reorientação estratégica que vai além da lógica produtivista de “publicar muito”. A questão passa a ser: publicar o quê, onde, por quê e com qual impacto? Isso demanda maturidade intelectual e capacidade de avaliar a própria produção não apenas por métricas quantitativas, mas por contribuições efetivas ao campo.

Ademais, há um desafio geracional nessa transição. Docentes formados sob a égide do Qualis tradicional construíram suas carreiras perseguindo estratos altos, muitas vezes sacrificando a pertinência temática em favor do prestígio do periódico. Agora, precisam reprogramar suas bússolas acadêmicas e, mais importante, orientar uma nova geração de pesquisadores sob critérios diferentes daqueles que os guiaram.

O novo sistema desloca parte significativa da avaliação do plano individual para o coletivo. A lógica deixa de ser apenas a soma das produções de cada docente para se tornar a construção de uma narrativa sobre o que o programa, de fato, realizou. A escolha das cinco produções mais relevantes deixa de ser uma tarefa administrativa e passa a funcionar como um exercício de autoavaliação conjunta. Esse movimento pode gerar tensões internas — afinal, que tipo de pesquisa deve prevalecer? Aplicada ou teórica? Internacional ou nacional? —, mas também tem potencial para fortalecer a identidade intelectual dos docentes e do próprio programa.

O que isso muda na prática?

Na prática, esse novo modelo altera profundamente a lógica do jogo para pesquisadores e programas. Ele traz vantagens evidentes, mas também expõe fragilidades que antes ficavam escondidas atrás de estratos altos. O ponto positivo é que quem produz com profundidade, consistência e propósito tende a ganhar espaço. Um artigo sólido, bem construído e capaz de gerar impacto real passa a valer mais do que três textos frágeis publicados apenas para “cumprir tabela”. Pesquisadores que trabalham com rigor, constroem trajetórias coerentes e se preocupam com a circulação de suas ideias provavelmente serão os mais beneficiados.

Por outro lado, a mudança pressiona práticas que se tornaram comuns na pós-graduação, como publicar às pressas, fragmentar excessivamente resultados, escolher periódicos apenas porque “sempre funcionou” ou buscar o estrato mais alto sem considerar se o periódico realmente dialoga com o tema pesquisado. Agora, publicar muito e impactar pouco deixa de ser uma estratégia viável. Um artigo que não é citado, não circula e não conversa com sua área terá peso pequeno, mesmo quando publicado em uma revista reconhecida.

Para os programas, o recado é igualmente claro: um grande volume de publicações desconectadas das linhas de pesquisa deixa de ser vantagem. O que a CAPES passa a valorizar é coerência, isto é, um conjunto de produções que indique para onde o programa está caminhando, o que está investigando e como isso contribui para o desenvolvimento da área. Programas desorganizados, que acumulam artigos sem estratégia ou permitem produções discentes soltas e pouco orientadas, tendem a perder força. Já aqueles que estruturam adequadamente suas linhas, estimulam colaborações, zelam pela qualidade metodológica e investem em pesquisas de maior alcance devem se destacar.

Nesse contexto, também é essencial repensar algumas práticas internas, especialmente as que exigem que o estudante publique diversos artigos além da dissertação ou tese. Esse tipo de cobrança, quando descolado da maturidade do estudo ou do tempo disponível, frequentemente resulta em publicações apressadas, pouco alinhadas às linhas do programa e com impacto limitado. Não se trata de eliminar a exigência de produção, mas de buscar equilíbrio. Incentivar pesquisas sólidas, bem orientadas e cuidadosamente construídas tende a gerar resultados mais relevantes do que impor metas de quantidade — algo que o novo modelo já não valoriza da mesma forma.

E agora, o que eu, enquanto pesquisador, preciso fazer?

  • Acompanhe as atualizações oficiais da CAPES: Para entender completamente o novo sistema, acesse as Diretrizes Comuns da Avaliação e o Documento de Área da Enfermagem. Acompanhe também a Plataforma Sucupira, onde a CAPES publica todas as atualizações, esclarecimentos e notícias sobre o ciclo 2025-2028.
  • Escolha estrategicamente o periódico: Não se limite ao estrato; observe sobretudo as indexações da revista. Periódicos presentes em bases como SciELO, Scopus, MEDLINE ou Web of Science já garantem pisos mínimos de classificação. Avalie também a aderência temática, pois o artigo precisa dialogar com o escopo da revista para ter chances reais de repercutir.
  • Invista na qualidade e no rigor metodológico do manuscrito: A avaliação individual dependerá, em grande medida, das citações futuras. Isso implica escrita clara, contribuição bem delimitada, diálogo consistente com a literatura e, sobretudo, rigor metodológico. Métodos frágeis ou mal reportados dificilmente conquistam credibilidade suficiente para gerar citações. Não basta publicar; é preciso que o trabalho seja metodologicamente sólido para ser, de fato, citável.
  • Divulgue sua pesquisa: Citações não surgem espontaneamente. Apresente seus resultados em eventos, compartilhe-os em redes acadêmicas e estabeleça contato com outros pesquisadores da área. O impacto bibliométrico depende tanto da qualidade quanto da visibilidade do trabalho.
  • Acompanhe o desempenho do artigo: Monitore citações em bases como Google Scholar, Scopus ou Web of Science. Artigos que se destacam podem ascender de estrato, mas isso exige acompanhamento contínuo para que você saiba quando o seu está ganhando tração.

Como verificar as indexações das revistas?

1. Scopus

Link oficial: https://www.scopus.com/sources

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo nome da revista ou ISSN.
  3. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na Scopus.
  4. Clique no título da revista para abrir a página completa.
  5. Verifique CiteScore, percentil, categorias, SJR, SNIP e cobertura.

Para acessar os documentos completos (artigos), as métricas detalhadas de cada publicação e as ferramentas avançadas de análise, é necessário realizar login institucional. Com ele, também é possível comparar até 10 revistas simultaneamente e baixar a lista completa de fontes Scopus em Excel (opção no canto superior direito). Nesse caso, é necessário criar uma conta na Scopus enquanto estiver autenticado pelo login institucional.

Acesso institucional (via Portal CAPES):

  1. Acesse: https://www.periodicos.capes.gov.br
  2. Clique em “Acesso CAFe” (Comunidade Acadêmica Federada).
  3. Escolha sua instituição (ex.: UFF, USP, UFRN, UNIFESP).
  4. Faça login com suas credenciais institucionais.
  5. Você será redirecionado ao Portal CAPES autenticado.
  6. Dentro do Portal CAPES autenticado, pesquise por “Scopus”.
  7. Clique em “Ver no editor” para acessar a plataforma.
  8. Na Scopus, clique em “Sources” na parte superior direita.
  9. Uma vez dentro do Scopus Sources, busque a revista pela área temática, título, editora ou ISSN.
  10. Clique no título da revista e consulte as métricas.

2. Web of Science / Journal Citation Reports (JCR)

Link oficial (requer acesso institucional): https://jcr.clarivate.com

Como fazer o acesso institucional (via Portal CAPES):

  1. Acesse: https://www.periodicos.capes.gov.br
  2. Clique em “Acesso CAFe” (Comunidade Acadêmica Federada).
  3. Escolha sua instituição (ex.: UFF, USP, UFRN, UNIFESP).
  4. Faça login com seu e-mail institucional.
  5. Você será redirecionado ao Portal CAPES autenticado.
  6. Dentro do Portal CAPES autenticado, pesquise por “Journal Citation Reports”.
  7. Clique em “Ver no editor” para acessar a plataforma.
  8. No JCR, busque a revista pelo título, ISSN, categoria, editora ou país.
  9. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na Web of Science.
  10. Clique no título da revista e consulte as métricas.

3. BDEnf (Base de Dados de Enfermagem)

Link oficial: https://bvsenfermeria.bvsalud.org/pt/blog/vhl/revistas-cientificas/revistas-indexadas-bdenf-lilacs-e-revenf/bdenf-base-de-dados-de-enfermagem

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo título da revista na lista (Windows: Ctrl + F; Mac: Command + F).
  3. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na BDEnf.

OBS: Há uma chance dessa lista estar desatualizada. Porém, ainda é a fonte oficial de informação das revistas indexadas na BDEnf.

4. CINAHL (Cumulative Index to Nursing and Allied Health Literature)

Link oficial: https://about.ebsco.com/m/ee/Marketing/titleLists/cul-subject.htm

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo título da revista na lista (Windows: Ctrl + F; Mac: Command + F).
  3. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na CINAHL.

5. Latindex

Link oficial: https://www.latindex.org/latindex/inicio

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo título da revista ou ISSN na categoria “Diretório”.
  3. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na Latindex.
  4. Clique no título da revista e consulte suas informações completas.

6. LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde)

Link oficial: https://lilacs.bvsalud.org/periodicos-indexados-na-lilacs

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo título da revista.
  3. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na LILACS.
  4. Clique no título da revista e você será direcionado para a página oficial da revista.

7. MEDLINE (Medical Literature Analysis and Retrieval System Online)

Link oficial: www.nlm.nih.gov/medline/medline_new_titles.html

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Na barra de busca, ao lado de “currentlyindexed[All]”, busque pelo título ou pelo ISSN da revista (atenção: não apague o “currentlyindexed[All]”, digite ao lado).
  3. Se a revista aparecer nos resultados, ela está indexada na MEDLINE.

8. RIC CUIDEn

Link oficial (requer criar uma conta para acesso): https://www.fundacionindex.com/cc/RIC.php

  1. Acesse o link oficial.
  2. Crie uma conta gratuita no site (pode ser pelo “¡Create una cuenta!” ou pelo “Entrar con Google”).
  3. Uma vez logado, busque pelo ISSN ou pelo título abreviado da revista.
  4. Se a revista estiver na lista, ela está indexada na CUIDEn.
  5. O RIC aparece vinculado ao ano correspondente, indicando o ano em que o indicador foi calculado.

9. RevEnf (Portal de Revistas de Enfermagem)

Link oficial: https://www.revenf.bvs.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=title&fmt=iso.pft&lang=p

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo título da revista.
  3. Se a revista estiver na lista, ela está ou já foi indexada na RevEnf.
  4. Clique no título da revista e consulte o período de cobertura.

10. SciELO (Scientific Electronic Library Online)

Link oficial: https://www.scielo.org/pt-br/listar-por-ordem-alfabética/?tab=C&search_term=

Como usar:

  1. Acesse o link oficial.
  2. Busque pelo título da revista no “Digite para filtrar”.
  3. Se a revista estiver na lista, ela pode estar indexada diretamente na SciELO ou ter seu conteúdo disponibilizado na plataforma por meio de portais parceiros (como a RevEnf, por exemplo). As revistas que têm seu conteúdo disponibilizado por portais parceiros aparecem com o nome do portal ao lado do título, em vez do país.
  4. Clique no título da revista e consulte suas informações completas.

11. Google Scholar

Link oficial: https://scholar.google.com/citations?view_op=top_venues&hl=pt-BR

Como usar:

Opção 1 – Buscar uma revista específica (mais rápido)

  1. Acesse o link oficial.
  2. Clique no ícone da lupa (🔍) no canto superior direito.
  3. Digite o nome da revista que você deseja consultar.
  4. Clique novamente na lupa (agora em azul) ou pressione Enter no teclado para pesquisar.

Você verá:

  • Nome da revista
  • h5-index: número máximo h de artigos publicados nos últimos 5 anos que receberam pelo menos h citações cada
  • h5-median: mediana de citações dos artigos que compõem o h5-index

Se clicar sobre o número do h5-index, o Google mostra:

  • os artigos mais citados que compõem aquele índice;
  • a lista de quem citou cada artigo.

Opção 2 – Navegar por rankings e categorias

  1. Acesse o link oficial.
  2. A página inicial mostra as 100 revistas mais citadas em português.
  3. Para alterar o idioma: use o menu suspenso no topo da página → selecione inglês, português, espanhol, etc. → cada idioma exibe as 100 principais publicações naquele idioma.

Para explorar por categorias temáticas (disponível apenas quando o idioma está com o inglês selecionado):

  1. No canto superior esquerdo, clique em “Categorias”.
  2. Escolha a área de interesse (ex.: Health & Medical Sciences → Subcategorias → Nursing).

As revistas dentro de cada categoria são ordenadas automaticamente do maior para o menor h5-index.

Conclusão

As mudanças no Qualis chegam em um momento crucial para a ciência brasileira. Depois de anos correndo atrás de estratos sem se perguntar se estávamos produzindo conhecimento que realmente importa, agora somos convidados a olhar para o que fazemos com mais honestidade. Publicar muito deixa de ser suficiente; o que conta agora é publicar com propósito, rigor e impacto real. Para quem sempre se preocupou em fazer pesquisa relevante, isso é uma boa notícia. Para quem apostava apenas na quantidade, o jogo mudou.

O sistema ficou mais complexo, é verdade, mas também abriu espaço para reconhecer a diversidade da produção científica em Saúde e Enfermagem. Pesquisas que dialogam com o Sistema Único de Saúde (SUS), que enfrentam problemas locais e que constroem conhecimento situado no cotidiano passam a ter legitimidade. Não se trata de abrir mão da qualidade ou do rigor, mas de entender que ciência relevante pode — e deve — nascer dos contextos onde a saúde e a enfermagem efetivamente acontecem.

Referências

BARATA, Rita de Cássia Barradas. Dez coisas que você deveria saber sobre o Qualis. Revista Brasileira de Pós-Graduação, Brasília, v. 13, n. 30, p. 13-40, mar. 2017. DOI: 10.21713/2358-2332.2016.v13.947. Disponível em: http://ojs.rbpg.capes.gov.br/index.php/rbpg/article/view/947. Acesso em: 9 nov. 2025.

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BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento Técnico do Qualis Periódicos. Brasília: CAPES, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/documentos/avaliacao/avaliacao-quadrienal-2017/DocumentotcnicoQualisPeridicosfinal.pdf. Acesso em: 9 nov. 2025.

BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. CAPES divulga calendário de Avaliação de Permanência 2021-2024. CAPES, Brasília, 20 dez. 2024a, 13:34. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/assuntos/noticias/capes-divulga-calendario-de-avaliacao-de-permanencia-2021-2024. Acesso em: 9 nov. 2025.

BRASIL. Ministério da Educação. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Relatório do Grupo de Trabalho Classificações da Produção Intelectual e Qualis Periódicos. Brasília: CAPES, 2024b. Disponível em: https://www.gov.br/capes/pt-br/centrais-de-conteudo/22012025_Relatorio_2529780_20.01.2025___DOI___GT_Qualis.pdf. Acesso em: 9 nov. 2025.

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Como citar (ABNT Style):

ALMEIDA, Y. S.; CORTEZ, E. A. Mudanças no Qualis: O que ninguém te contou. Enfermagem Pesquisadora, Rio de Janeiro, 21 nov. 2025. Disponivel em: https://enfermagempesquisadora.com.br/mudancas-no-qualis-o-que-ninguem-te-contou/ 

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