O que é Literatura Cinzenta?

Quando falamos em pesquisa científica, a primeira imagem que vem à mente costuma ser a de artigos publicados em revistas acadêmicas, revisados por pares e indexados em bases renomadas. No entanto, há um outro universo riquíssimo que muitas vezes passa despercebido: a literatura cinzenta.

Definição

Segundo o International Conference on Grey Literature (2004), literatura cinzenta é:

“Informação produzida em todos os níveis de governo, academia, negócios e indústria, em formatos eletrônicos ou impressos, não controlada por editoras comerciais, ou seja, cuja publicação não é a atividade principal da instituição produtora.”

Em outras palavras, são documentos informativos disponíveis ao público, mas fora dos canais editoriais tradicionais, como revistas científicas.

Por que “cinzenta”?

Ela recebe esse nome por se situar em uma zona intermediária: entre o que é abertamente publicado e indexado em bases formais (a chamada literatura clara) e o que é inacessível ou inexistente na esfera pública (a literatura escura).

Principais tipos de documentos

A literatura cinzenta engloba uma ampla variedade de documentos. Abaixo, detalhamos os tipos mais comuns:

Vantagens

• Amplia o escopo da pesquisa, incluindo relatórios, diretrizes e dados não publicados em periódicos;
• Reduz o viés de publicação ao contemplar resultados negativos ou neutros;
• Garante acesso a informações atualizadas;
• Fornece evidências contextuais e locais para políticas públicas e práticas regionais;
• Ajuda a mapear lacunas e tendências em revisões de escopo;
• Diversidade de formatos, incluindo dados brutos, guias e pareceres técnicos.

Desvantagens

• Ausência de revisão por pares na maior parte dos documentos;
• Dificuldade para localizar, acessar e padronizar informações;
• Possível duplicação em diferentes repositórios;
• Risco de desatualização de documentos antigos;
• Heterogeneidade de formatos dificulta sistematização e comparação;
• Necessidade de avaliação crítica extra, sobretudo em revisões sistemáticas (ver próximo tópico).

E a qualidade da informação?

A maioria dos documentos de literatura cinzenta não passa por revisão por pares, o que significa que podem existir variações na qualidade metodológica, no rigor científico e na confiabilidade dos dados.

Isso exige atenção redobrada, principalmente dependendo do tipo de revisão que se pretende realizar:

Em revisões sistemáticas:
A literatura cinzenta pode ser incluída, mas precisa passar por uma avaliação crítica rigorosa, utilizando ferramentas específicas para análise de qualidade e risco de viés, como GRADE ou AMSTAR 2. Isso porque revisões sistemáticas têm como objetivo sintetizar as melhores evidências científicas disponíveis, e a força dessas evidências depende diretamente da qualidade dos estudos incluídos.

Em revisões de escopo:
O objetivo é mapear o que existe sobre um tema, e não necessariamente avaliar a qualidade metodológica de cada fonte. Nesse contexto, a literatura cinzenta é muito bem-vinda, pois permite identificar lacunas, tendências e uma diversidade maior de dados – inclusive aqueles que não chegam às revistas científicas formais. Também ajuda a reduzir o viés de publicação, já que muitas pesquisas com resultados negativos ou neutros acabam não sendo publicadas em periódicos.

Onde encontrar?

1. Buscadores e agregadores acadêmicos

2. Repositórios de teses, dissertações e produções institucionais

3. Plataformas governamentais e de organizações internacionais

4. Livros e publicações técnicas em acesso aberto

5. Plataformas de pré-prints, protocolos e dados de pesquisa (datasets)

6. Buscas manuais

Nem toda literatura cinzenta está indexada em bases ou buscadores. Por isso, pode ser necessário visitar diretamente os sites institucionais para encontrar documentos relevantes. Alguns exemplos:

• Agências governamentais, como o Centers for Disease Control and Prevention (CDC), o Instituto Nacional de Câncer (Inca) ou a Food and Drug Administration (FDA);
• Conselhos e associações profissionais, como o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), a American Nurses Association (ANA) ou o Royal College of Nursing (RCN);
• Repositórios institucionais e bibliotecas digitais, como o Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RiUFF), a Arca da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) ou o DSpace do Massachusetts Institute of Technology (MIT);
• Organizações não governamentais, como Médicos Sem Fronteiras e o Save the Children;
• Organismos internacionais, como o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).

Essas buscas devem ser feitas diretamente no site ou em suas áreas específicas, usando o próprio motor de busca interno ou navegando em seções como publicações, biblioteca digital, documentos técnicos ou relatórios.

Referências

GREYNET INTERNATIONAL. Grey Literature Network Service. Amsterdam: GreyNet International, c2025. Disponível em: https://www.greynet.org/greysourceindex/documenttypes.html. Acesso em: 17 jul. 2025.

MCLEOD, M. Grey Literature. Canada: Carleton University, 2025. Disponível em: https://library.carleton.ca/guides/subject/grey-literature. Acesso em: 17 jul. 2025.

RILEY, C. Grey literature: What it is & how to find it. Canada: Simon Fraser University Library, 2025. Disponível em: https://www.lib.sfu.ca/help/research-assistance/format-type/grey-literature. Acesso em: 17 jul. 2025.

UNIVERSITY OF EDINBURGH. Grey literature. Scotland: University of Edinburgh, 2024. Disponível em: https://library.ed.ac.uk/finding-resources/library-databases/databases-subject-a-z/grey-literature. Acesso em: 17 jul. 2025.